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Foto do escritorAlexandre Costa

BRASIL DE BOLSONARO: AGRESSÕES A JORNALISTAS E DESRESPEITO À LIBERDADE DE IMPRENSA


As agressões contra jornalistas têm sido uma constante desde a eleição de Jair Bolsonaro, o que faz do Brasil uma espécie de terra sem lei. No dia 31 de outubro, o presidente brasileiro protagonizou mais um vexame, desta vez em Roma, na Itália. Os jornalistas acompanhavam a participação do presidente brasileiro na cúpula do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo). Ao final dos trabalhos, Bolsonaro resolveu fazer uma passeio na região da embaixada brasileira. Pelo menos três jornalistas foram agredidos fisicamente enquanto faziam a cobertura da atividade do presidente Jair Bolsonaro na capital italiana.


As agressões, ao que tudo indica, foram cometidas por agentes de segurança do presidente, mas também pode ter ocorrido uma agressão por parte de policiais italianos. O presidente também hostilizou um jornalista. Ao ser abordado pelo repórter Leonardo Monteiro, do G1, o presidente deu início aos ataques, dizendo: “É a Globo? Você não tem vergonha na cara?”, pergunta que foi repetida, diante da tentativa do repórter de seguir com a entrevista. Os seguranças começaram a empurrar os repórter e Leonardo Monteiro chegou a dizer ao presidente, que ignorou a reclamação. O repórter Jamil Chade, do UOL, registrou parte dos ataques, até ele mesmo ser agredido. Ao perceber que ele estava filmando a violência contra os profissionais da imprensa, um segurança o empurrou, o agarrou pelo braço e tomou o celular de sua mão. Depois, o segurança jogou o celular num canto da rua. Mais cedo, a repórter Ana Estela de Souza Pinto, da Folha de S. Paulo, havia sido empurrada e intimidada. Um agente que não quis se identificar (podendo ser um segurança ou um policial italiano) a empurrou e mandou que ela se afastassem do local.


O presidente Jair Bolsonaro tem sido o principal agressor dos jornalistas e veículos de mídia. Em 2020, sozinho, foi autor de 40,89% das agressões registradas pela Federação Nacional dos Jornalistas. De acordo com a entidade, o presidente provocou uma verdadeira explosão da violência contra jornalistas e contra a imprensa de um modo geral. No Relatório 2020 – Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, a entidade contabilizou 428 episódios no país. No primeiro do governo de Jair Bolsonaro, o número de casos de ataques a veículos de comunicação e a jornalistas já havia registrado aumento de 54,07% em relação ao ano anterior, tendo chegado a 208 casos, crescimento de 105,77% em relação a 2019. O resultado constatado em 2020 é assustador, mas a pesquisa ainda traz outros elementos que chamam atenção e que nos fazem questionar a repercussão da “autorização” para comportamentos violentos que vem sendo dada pelo presidente e seus filhos (como demonstra pesquisa da organização internacional Repórteres Sem Fronteiras), especialmente em comunidades tradicionais, territórios explorados pelo agronegócio, mineração e por megaempreendimentos e em outras zonas críticas de conflitos.

Segundo o Relatório 2020, o presidente Jair Bolsonaro tem sido o principal agressor dos jornalistas e veículos de mídia. Em 2020, sozinho, foi autor de 40,89% das agressões registradas pela Federação Nacional dos Jornalistas. Do total de atos praticados pelo político, 145 casos foram registrados como ações de descredibilização da imprensa, por meio de ataques a veículos de comunicação e a profissionais. Em outras 26 ocasiões, a Fenaj identificou agressões verbais, além de duas ameaças diretas a jornalistas e de dois ataques à própria Federação, totalizando 175 casos. Em ambos os levantamentos, a violência contra jornalistas e a repressão à liberdade de imprensa estão diretamente ligadas à Presidência da República. No Relatório 2020 da Fenaj, depois de Bolsonaro, aparece como segundo grupo que mais agrediu jornalistas e imprensa o dos servidores públicos e de dirigentes da Empresa Brasil de Comunicação; em terceiro, o grupo genérico dos “políticos”. A violência contra jornalistas e comunicadores populares é um dos absurdos da gestão Bolsonaro, o qual se agrava ainda mais com medidas como a tentativa de flexibilizar regras para porte de arma por meio dos Decretos 10.627, 10.628, 10.629 e 10.630/2021, que alteram pontos do Estatuto do Desarmamento. Além de corresponderem a uma tentativa do Executivo de criar leis, que é uma atribuição do Legislativo, as medidas podem aumentar a violência ao facilitar a circulação de armas de fogo e munições na sociedade, favorecendo a aquisição e porte pela população civil, profissionais, colecionadores, atiradores e caçadores.

Para a Repórteres Sem Fronteiras, "a hostilidade demonstrada por Jair Bolsonaro não é novidade. Ela reflete como o presidente, sua família e seus apoiadores refinaram, ao longo do ano passado, um sistema focado em desacreditar a imprensa e silenciar jornalistas críticos e independentes, considerados inimigos do Estado”. Para entender como o brasileiro se informa, é importante desenvolver estudos que cruzem dados como os dos relatórios sobre repressão a jornalistas e à liberdade de imprensa com informações sobre a realidade de comunicadores populares e lideranças comunitárias. Tais informações devem avaliar o funcionamento das redes sociais e incorporar também análises sobre as mudanças que vêm ocorrendo no setor da comunicação. Os estudos da Fenaj e da Repórteres Sem Fronteiras são os principais levantamentos sobre violência contra jornalistas e agressões à liberdade de imprensa no Brasil. Analisar seus dados e compará-los com outros, como os reunidos pelo Atlas da Notícia, por exemplo, é relevante para avaliar a repercussão e o impacto das ameaças e da violência real sobre o setor e seus profissionais.


AMEAÇAS AO JORNALISTA DA FÓRUM O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Associação Brasileira de Mídia Digital (ABMD) e o Grupo Prerrogativas divulgaram, na terça-feira (2/11), notas de repúdio contra as agressões e ameaças sofridas pelo jornalista Marcelo Hailer, da Fórum. Após a publicação da matéria “Massacre: Operação policial em Minas deixa 25 mortos e nenhum deles policial”, Hailer, que assina o texto, começou a receber ameaças de morte e insultos LGBTfóbicos de grupos bolsonaristas em suas redes sociais. As ameaças ganharam intensidade depois que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) comentou o assunto e criticou a cobertura da imprensa. No domingo (31/10), a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), representante máxima da categoria no Brasil, vieram a público repudiar e condenar a violência contra profissionais brasileiros, ocorrida no dia 31 de outubro, em Roma.


Os ataques, também de caráter homofóbico, chegaram a centenas e foram intensificados a partir de postagens nas redes sociais do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente da República.

As entidades se solidarizam com Marcelo, acostumado a fazer coberturas de temas relacionados aos direitos humanos. O SJSP entrou em contato com o jornalista e colocou à disposição seu departamento jurídico, além do que mais for necessário. “Neste momento, o que me faz sentir melhor é a solidariedade que tenho recebido da categoria. E é muito importante o apoio do Sindicato e da Fenaj” – disse Marcelo, que registrou Boletim de Ocorrência eletrônico.

As ameaças partem, em geral, de grupos bolsonaristas em redes sociais, e vão desde rastrear a vida do jornalista, à execução dele e de seus familiares. Sem contar os insultos homofóbicos.

A matéria de autoria de Marcelo abordava a operação policial que matou 25 pessoas em Varginha (MG) no domingo (31). A reação criminosa contra a atividade do jornalista é reflexo do ódio promovido pelo governo Bolsonaro contra os profissionais da imprensa e à liberdade de expressão. Inadmissível e repugnante.


JAMIL CHADE REGISTROU OCORRÊNCIA

O jornalista Jamil Chade registrou queixa contra o aparato da Presidência da República do Brasil, em Roma, por agressões que sofreu, junto com outros jornalistas brasileiros, quando tentavam entrevistar o presidente Jair Bolsonaro. A informação foi difundida pelo Twitter. Os crimes a serem apurados foram praticados durante a cobertura do encontro do G20, grupo das maiores economias do mundo.


O jornalista da Globo Leonardo Monteiro foi agredido com um soco no estômago por um dos agentes de segurança de Jair Bolsonaro depois de perguntar ao presidente por que ele não tinha participado de encontros da cúpula do G20, em Roma. Segundo o portal G1, Jamil Chade filmou a agressão para tentar identificar o responsável, mas o segurança também o empurrou, agarrou pelo braço para torcê-lo e levou o celular do repórter. Mais adiante, atirou o aparelho na rua. A Globo afirmou, em editorial, que está buscando informações sobre os procedimentos necessários para solicitar investigação para as autoridades italianas. Não foi possível saber se o agressor do repórter era policial ou segurança particular do presidente.


A violência, aparentemente, teve origem na contrariedade com as notícias cruéis e vexaminosas sobre a passagem de Bolsonaro pela Itália. No momento em que presidentes de outros países davam entrevistas coletivas, Bolsonaro preferiu confraternizar com apoiadores, na rua. Os jornalistas brasileiros se aproximaram para fazer perguntas, e foram hostilizados. Quando o correspondente da Globo se identificou, ouviu de Bolsonaro: "É da Globo? Você não tem vergonha na cara."


Mesmo antes de Bolsonaro chegar à embaixada, uma assistente da Globo foi provocada pelos apoiadores do presidente, chamada de "infiltrada". Depois, quando seguranças e policiais italianos chegaram, um agente empurrou a jornalista Ana Estela de Sousa Pinto, da Folha de S.Paulo, e disse para ela se afastar do local. Segundo relatos de um jornalista da BBC, a truculência não se estendeu aos apoiadores do presidente. Vários deles, usando as cores do Brasil, se aproximaram de Bolsonaro. Parte dos manifestantes também xingou e hostilizou os jornalistas — embora uma apoiadora de Bolsonaro tenha sido derrubada também por agentes. No editorial, a Globo atribuiu o episódio à "retórica beligerante do presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas". "Essa retórica não impedirá o trabalho legítimo da imprensa. Perguntas continuarão a ser feitas, os atos do presidente continuarão a ser acompanhados e registrados. É o dever do jornalismo profissional. Mas essa retórica pode ter consequências ainda mais graves. E o responsável será o presidente." A Folha, por sua vez, divulgou nota dizendo que "repudia as agressões sofridas pela repórter Ana Estela de Sousa Pinto e outros jornalistas em Roma, mais um inaceitável ataque da Presidência Jair Bolsonaro à imprensa profissional."


A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou nota, afirmando que "repudia com veemência e indignação as agressões sofridas por jornalistas brasileiros na cobertura das atividades do presidente Jair Bolsonaro em Roma. A violência contra os jornalistas, na tentativa de impedir seu trabalho, é consequência direta da postura do próprio presidente, que estimula com atos e palavras a intolerância diante da atividade jornalística. É lamentável e inadmissível que o presidente e seus agentes de segurança se voltem contra o trabalho dos jornalistas, cuja missão é informar aos cidadãos. A agressão verbal e a truculência física não impedirão o jornalismo brasileiro de prosseguir no seu trabalho. A ANJ espera que os atos de violência cometidos contra os jornalistas sejam apurados e os culpados, punidos. A impunidade nesse e em outros episódios é sinal de escalada autoritária."


A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) disse que "repudia mais esse ataque à imprensa envolvendo a maior autoridade do país. Ao não condenar atos violentos de seus seguranças e apoiadores a jornalistas que tão somente estão cumprindo seu dever de informar, o presidente da República incentiva mais ataques do gênero, em uma escalada perigosa e que pode se revelar fatal. Atacar o mensageiro é uma prática recorrente do governo Bolsonaro que, assim como qualquer outra administração, está sujeito ao escrutínio público. É dever da imprensa informar à sociedade atos do poder público, incluindo viagens do presidente no exercício do mandato. E a sociedade, por meio do art 5º da Constituição, inciso XIV, tem o direito do acesso à informação garantido."


Já o Conselho Federal da OAB, por meio de sua Comissão de Liberdade de Expressão, afirmou que "repudia ataques dos seguranças do presidente aos jornalistas que cobriam sua passagem em Roma. Lamentável que incidentes como esse ocorram, refletindo uma postura frequente de desrespeito ao trabalho dos profissionais de imprensa". A nota é assinada por Felipe Santa Cruz, presidente da OAB Nacional e Pierpaolo Bottini, presidente da Comissão de Liberdade de Expressão da OAB Nacional.


“Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma.” A frase do célebre jornalista Joseph Pulitzer, cabe como uma luva para a sociedade brasileira e também para o atual cenário político.

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