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Foto do escritorAlexandre Costa

Conscientização e política: um chamado aos intelectuais progressistas!, por Adriano Skrebsky Reinheimer*

Vivemos tempos de profundas transformações sociais e políticas, impulsionadas pelas redes sociais e pela ascensão da inteligência artificial, em que o destino de nossas sociedades é disputado por diversas forças. Nesse cenário, o papel do intelectual se mostra fundamental, pois, através de teses, ensaios e artigos, cabe a esses analistas fomentar reflexões que despertem a conscientização social. Posto isso, o presente texto se propõe, despretensiosamente, a explorar, em sintonia com a tradição crítica da Escola de Frankfurt e de teóricos como Antonio Gramsci – corrente filosófica que valoriza o intelectual como agente de conscientização e transformação social, entendendo o conhecimento como um instrumento de crítica às estruturas de poder e dominação – dois projetos antagônicos: o “Estado de Bem-Estar Social” e o “Estado Mínimo”.


Logo, o “Estado de Bem-Estar Social” não é um conceito utópico ou abstrato, mas uma estrutura que já demonstrou, ao longo da história, sua eficácia em reduzir desigualdades, garantir dignidade aos cidadãos e proporcionar um mínimo de segurança para os mais vulneráveis. Países que adotaram essas políticas alcançaram altos índices de qualidade de vida, com serviços públicos que protegem a população em áreas essenciais, como saúde, educação, segurança, infraestrutura de transporte e saneamento básico, assistência social e previdência. Ao defender o papel ativo do Estado nesses serviços públicos estratégicos, o intelectual combate os discursos que desconsideram ou minimizam essas conquistas.


Por outro lado, o “Estado Mínimo”, propagado por setores neoliberais e do conservadorismo, busca reduzir a participação do Estado, transferindo responsabilidades para o setor privado e promovendo a precarização dos serviços públicos. O resultado é a ampliação das desigualdades, onde apenas os mais abastados têm acesso a direitos imprescindíveis, e os mais pobres ficam à mercê de um sistema que não lhes oferece proteção.


Nesse embate de narrações, o papel do pensador social é desmistificar as falsas promessas do “Estado Mínimo” e mostrar que o desmantelamento do “Estado de Bem-Estar Social” coloca em risco o futuro das gerações mais desassistidas. Ao iluminar essas questões em suas teses, o intelectual faz um convite ao debate crítico e à formação de uma sociedade mais consciente e politicamente engajada.


Entretanto, a conscientização da sociedade enfrenta um desafio considerável: a estigmatização negativa da esquerda. Esse fenômeno, amplamente alimentado pela grande imprensa, por setores neopentecostais e pelas federações do sistema financeiro, da indústria, do comércio e do agronegócio, cria uma cortina de fumaça que distorce o debate público. A esquerda, tradicionalmente associada à luta por direitos sociais e justiça econômica, é frequentemente caricaturada e deslegitimada, sendo apresentada como inimiga da ordem e do progresso.


A grande imprensa, em sua maioria, opera em consonância com os interesses de grandes conglomerados econômicos, que veem a diminuição do papel do Estado como uma oportunidade para maximizar seus lucros. O discurso midiático que marginaliza o pensamento de esquerda faz parte de uma estratégia mais ampla de despolitização, que ignora a complexidade do debate sobre as responsabilidades estatais e reduz a política a uma luta binária e simplista: direita contra esquerda.


No caso dos segmentos neopentecostais, observa-se uma instrumentalização da fé para fins políticos, além da busca por enriquecimento, onde líderes religiosos utilizam sua influência sobre amplas parcelas da população para atacar conceitos progressistas. Em vez de promover o diálogo e a inclusão social, muitos reforçam um discurso conservador que perpetua preconceitos e mantém estruturas de poder desiguais. Essa abordagem, combinada com a oratória antipolítica, fortalece o imaginário de que o “Estado de BemEstar Social” é um inimigo da família e dos valores morais, quando, na verdade, seu objetivo é proteger os cidadãos contra as incertezas do capitalismo.


Já as federações do sistema financeiro, da indústria, do comércio e do agronegócio constituem outra poderosa frente na disseminação de uma eloquência antiesquerda. Motivadas por interesses econômicos, essas federações se beneficiam diretamente da noção de um “Estado Mínimo”, que promove o livre mercado e a redução de regulamentações, sem abrir mão dos vultosos recursos tributários do “sistema S”. Para esses setores, o fortalecimento do “Estado de Bem-Estar Social” significaria o aumento de impostos e regulações que consideram prejudiciais aos seus lucros. Ao defenderem um discurso de eficiência econômica e meritocracia, essas federações ignoram as necessidades de amplas camadas da população que dependem de políticas públicas para viver.


Diante disso, é crucial que os pensadores, ao formularem suas teses e disseminarem suas opiniões, combatam a rotulagem falaciosa atribuída à esquerda e revelem os danos que ela provoca na qualidade do debate público. Essa demonização impede que políticas fundamentais sejam discutidas com a seriedade necessária, desviando o foco das verdadeiras causas dos problemas sociais, como a concentração de riqueza e o abandono por parte do Estado.


Contudo, a conscientização sobre a importância do “Estado de Bem-Estar Social” não é apenas uma questão teórica; é uma questão de sobrevivência para milhões de pessoas que dependem de políticas públicas para garantir o mínimo de dignidade. O papel de resgatar o debate das armadilhas retóricas impostas pelos interesses conservadores e de fomentar uma visão de sociedade mais justa, solidária e inclusiva é do pensador crítico, que deve articular suas ideias em defesa de uma transformação social que priorize o bem-estar coletivo, desafiando as fake news que marginalizam os oprimidos.


Nesse sentido, é urgente que os intelectuais se posicionem de forma clara e corajosa, utilizando plataformas da sociedade civil organizada, desde sindicatos de trabalhadores até associações comunitárias, para lutar contra as narrativas que buscam deslegitimar a esquerda e minar as bases do “Estado de BemEstar Social”. E, para que esse debate produza frutos concretos, o apoio a candidaturas majoritárias (prefeito, governador e presidente) e proporcionais (vereador, deputado e senador) do campo progressista se torna fundamental, pois somente com a eleição de representantes que defendam uma agenda de fortalecimento das políticas públicas e de combate às desigualdades será possível reverter o avanço das forças retrógradas que promovem o “Estado Mínimo”. Afinal, o conhecimento possui um poder transformador quando aliado à prática política, visando à construção de uma sociedade mais equitativa e comprometida com o bem-estar de todos.

* Adriano Skrebsky Reinheimer é Engenheiro Civil, Servidor Público

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