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Foto do escritorAlexandre Costa

1 - Gratidão em tempos de inundação, por Nora Prado *

Ainda muito abalada e impressionada com a destruição generalizada causada pela inundação do Rio Grande do Sul, depois das chuvas intensas da semana passada, sigo apreensiva e com o coração apertado, como a imensa maioria do povo gaúcho. Cerca de trezentas e setenta e sete cidades atingidas pelas enchentes, sem precedentes, dos rios dos Sinos, Jacuí, das Antas e diversos afluentes que desembocam no lago Guaíba em Porto Alegre afetando também as cidades vizinhas de Guaíba, Eldorado do Sul, Cachoeirinha, Esteio, Canoas e São Leopoldo, que são o próprio quadro da dor e da devastação.


Milhares de famílias perderam suas casas, seus entes queridos, animais, lavouras e sua perspectiva de dias melhores. Minha cidade, momentaneamente paralisada, segue sem aulas, universidades fechadas, sem transporte público, rodoviária, aeroporto e comércio, parece uma cidade fantasma não fosse pelo tráfego intermitente e diário de embarcações, lanchas jet skis, ambulâncias e caminhões do exército num trabalho frenético e incansável para resgatar vidas humanas e animais, ainda hoje, mais de uma semana depois do início da tragédia.


Cenas bizarras de famílias desesperadas em cima de telhados, ilhadas em meio ao manancial de água e lama que encobre o nosso estado. Quantidade de pessoas resgatadas sendo acolhidas e levadas para dezenas de abrigos na capital e no interior, o trabalho insano para ordenar essa logística e devolver um mínimo de segurança e bem-estar para estas pessoas completamente desprovidas de tudo. Famílias dispersas, divididas em meio ao atropelo dos resgates, buscam se reencontrar nesse formigueiro caótico.


As imagens e centenas de informação diária transmitidas pelos veículos de comunicação tentam dar conta das inúmeras ações desenvolvidas em centenas de lugares ao mesmo tempo. Na região da serra gaúcha muitos deslizamentos e mortes por soterramento de um solo altamente encharcado. Polícia civil, polícia metropolitana, brigada militar, bombeiros e o exército unidos na tarefa hercúlea de aliviar as graves consequências dessa calamidade. Soma-se a isso o auxílio de milhares de voluntários que se juntam nesta corrente do bem para levar auxílio nas diversas frentes de trabalho.


Milhares de pessoas sem água e sem luz, sem comida, sem um mínimo de dignidade precisando sair de casa em busca de abrigo em casa de parentes, amigos, hotéis e mesmo refugiar-se em abrigos abertos pela prefeitura.


Prefeitura esta que não destinou, sequer, um centavo na prevenção das enchentes em 2024 e cujo caixa está parado, é um dos principais responsáveis por esta situação miserável. Sebastião Melo não fez a devida manutenção nas comportas do Muro da Mauá, edificação que remonta os anos 1970 para impedir enchentes no centro histórico e adjacências, e que necessita reparos constantes para cumprir a função de evitar os alagamentos, se mostraram inúteis diante da força descomunal da água. Junte-se a tudo isso o negacionismo climático dos setores da extrema direita, práticas de desmatamento indiscriminado para lavoura, afrouxamento das leis de proteção ambiental, ocupação desordenada do solo e empreendimentos duvidosos por corporações gananciosas completam as razões para chegarmos neste estado deplorável.


Não há melhor momento para avaliar os danos destas administrações criminosas do que este e, ao contrário da mídia oficial, é hora, sim, de mostrar os culpados. Uma coisa não implica na outra, pois seguimos solidários e firmes neste momento de socorro às vítimas, mas com o devido discernimento crítico da situação.


Em ano de eleições municipais é fundamental lembrar de todo o mal causado por estes dois senhores, Eduardo Leite e Sebastião Melo e seus asseclas e seu total comprometimento na falta de planejamento urbano e social do município e do estado. Suas gestões oportunistas e elitistas jamais levaram em conta o patrimônio ambiental e social do estado, merecem ir para a lata do lixo da história.


Dito isso, preciso agradecer a todas as manifestações de amigos e familiares preocupados comigo, minha família, a cidade e o estado, à corrente de solidariedade que se multiplica por todo país na forma de doações em dinheiro, pix e uma quantidade incrível de doação de roupas, calçados, colchões, cobertores, roupas de cama, cestas básicas, produtos de higiene pessoal e limpeza bem como declarações de apoio incondicional aos seus irmãos gaúchos. Saibam que jamais esqueceremos esses gestos de profunda solidariedade que nos comovem e nos ajudam a acreditar que dias melhores virão.


Enquanto escrevo, a chuva prometida para hoje a noite começa a cair espessa e forte. Rezo para que os volumes sejam modestos e incapazes de piorar o nosso cenário já tão castigado.

Numa hora destas lembramos de que somos todos irmãos e que estamos de mãos dadas em total sintonia pelo bem do Rio Grande do Sul. Obrigada a todos do fundo do meu coração.


* Ilustração de Lucas Levitan


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