Um estudo elaborado pelo Netlab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi repassado com exclusividade para a Pública - Agência de Jornalismo. A matéria é assinada por Giovana Girardi e Rafael Oliveira e foi publicada na quinta-feira (18/1).
O www.esquinademocratica.com.br reproduz abaixo a íntegra da matéria.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), mais conhecida como a bancada ruralista do Congresso, publicou anúncios nas redes sociais ao longo de todo o ano passado com conteúdo desinformativo, descontextualizado, distorcido e/ou que minimizavam os impactos negativos do setor, de modo a promover sua agenda política no legislativo. É o que aponta uma análise elaborada pelo Netlab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. um relatório, repassado com exclusividade para Agência Pública, avalia que a comunicação digital da FPA, por meio de posts patrocinados nas redes da Meta (como Facebook e Instagram), adota o que foi classificado como “discurso tóxico”. O laboratório de pesquisa da UFRJ, que há mais de uma década estuda as redes sociais e o fenômeno de desinformação no Brasil, considera como “tóxicos” anúncios que recorrem a algum nível de desinformação e/ou ao chamado greenwashing (uma espécie de maquiagem verde).
Foram analisados 207 posts patrocinados nas redes sociais da FPA publicados entre janeiro e novembro de 2023. Quase metade (94 anúncios, 45%) tinha conteúdo que foi classificado como tóxico pela equipe do Netlab.
“A desinformação consiste no uso intencional de informações falsas, descontextualizadas ou distorcidas para manipular a opinião pública, descredibilizar inimigos e/ou introduzir vieses sensacionalistas”, explicam os pesquisadores. Já o greenwashing, dizem, “se caracteriza pelo uso de estratégias narrativas que ocultam práticas antiecológicas ou minimizam/negam seus impactos negativos”.
Segundo o grupo, liderado pelas pesquisadoras Marie Santini e Débora Salles, também se encaixa como greenwashing a divulgação de “atividades ecologicamente corretas em campanhas de publicidade para desviar a atenção daquelas ambientalmente hostis”.
Entre os temas destas publicações estavam assuntos caros à bancada ruralista bem no momento em que eles estavam sendo debatidos no Congresso, como a adoção de um marco temporal para a demarcação de terras indígenas, a CPI do MST e o projeto de lei sobre agrotóxicos.
As 207 publicações analisadas no estudo são anúncios patrocinados, impulsionados para alcançar um público maior. Eles são pagos pelo Instituto Pensar Agropecuária (IPA), organização bancada por associações do setor, que tem “o objetivo de defender os interesses da agricultura e prestar assessoria à Frente Parlamentar da Agropecuária por meio de acordo de cooperação técnica”, como eles mesmos se definem.
Foram gastos pelo menos R$ 77,7 mil nos anúncios, que somaram 19,8 milhões de impressões. Considerando apenas aqueles com conteúdo considerado tóxico, o investimento foi de R$ 31,4 mil, e eles alcançaram 8,2 milhões de impressões.
Publicada originalmente em: https://apublica.org/2024/01/bancada-ruralista-adota-discurso-toxico-em-anuncios-nas-redes-sociais-revela-estudo/