Suzana Lisboa, que fez parte do movimento estudantil gaúcho e foi militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), concedeu entrevista ao ICL Notícias, criticando veementemente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por cancelar as manifestações do seu governoem repúdio ao golpe militar de 1964, que em 2024 completa 60 anos.
“Queremos justiça quanto àqueles que torturaram, que vazaram os olhos, que arrancaram cabeças, que esconderam os corpos e que nos torturam até hoje com essa dúvida. Eu sou uma das pouquíssimas que teve a sorte de achar o seu desaparecido, eu tenho um túmulo para prantear. Centenas de familiares não têm. Ele (Lula) não sabe o que é isso”, lamenta Suzana. “Eu estou engasgada com essa decisão dele, estou envergonhada”.
CORPO FOI ENTERRADO NA VALA DE PERUS
Em 29 de agosto de 1979, uma reportagem revelou a localização do corpo de Luiz Eurico Tejera Lisboa, desaparecido por sete anos e que havia sido enterrado no cemitério de Perus, como era conhecido o sepulcrário, apesar de se chamar, à época, Dom Bosco e ficar no bairro de Perus, na zona norte de São Paulo.
A descoberta foi um marco na luta dos familiares pelo reconhecimento da responsabilidade do Estado na morte e no desaparecimento forçado de centenas de pessoas, todas vítimas da violência propagada por um aparato profissional de repressão contra opositores políticos.
Após anos de mobilização pró anistia, dentro e fora do país, em 28 de agosto de 1979, um dia antes da revelação do corpo, a Lei da Anistia foi aprovada no Congresso Nacional e sancionada pelo último presidente da ditadura militar, João Batista Figueiredo.
Inaugurado em 1971, o cemitério onde os restos mortais de Tejera foram encontrados era usado pela prefeitura de São Paulo, à época, como referência para o enterro de indigentes. A descoberta do corpo de Tejera - que usava o codinome de “Nelson Bueno” para os efeitos da luta clandestina contra a ditadura - aconteceu por insistência de sua esposa, Suzana Lisboa, ativista de direitos humanos desde 1979 e ex-membro da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, marcando o início das buscas por outros corpos de desaparecidos ligados aos movimentos de resistência à ditadura.
O cemitério de Perus havia recebido centenas de outros corpos, dentre esses de presos políticos, que foram enterrados em covas mal identificadas e posteriormente transferidos para uma vala comum clandestina, que só foi localizada em 1990.